VIAGEM AO INFERNO

Por edmarpereira

Depois de mais esta experiência eu continuei ali naquele mundo por não sei quanto tempo, pois os dias não tinham nem inicio e nem fim. Por outras vezes como era regra eu tive que participar do grande banquete, mesmo não mastigando a carne, eu não sentia mais fome e nem sede e se sentisse, com certeza não conseguiria saciar-me depois de ver tudo aquilo.

Em nenhum momento eu fiquei sozinho, o grande Demônio não deixava, mas de todas as coisas que ele me falou nada me deixou mais feliz do que quando ele se dirigiu a mim e disse:

— Vida Belarmino, chegou o seu dia (se é que existia dia – Pensei) sua temporada acabou, eu tenho que te levar para casa, mas antes tenho que te levar em um departamento que você não visitou ainda.

Acompanhei-o, só que dessa vez mais alegre, pois sabia que voltaria para casa e com certeza tudo ia ser diferente depois daquela experiência desagradável que em nenhum momento em minha vida no meu mundo eu fosse imaginar que iria passar algum dia.

A minha alegria não durou muito. Quando chegamos ao departamento que o Demo me levou. Ele disse: — Se prepare.

Um assessor abriu a porta e lá estavam mais uma enorme quantidade de vidas tendo dilacerado os seus corpos por outros açougueiros demônios. Chegando mais perto pude ver que eles só tiravam a língua e o coração daquelas vidas, fiquei embasbacado, mas arrisquei perguntar ao Demo:

— O que significa isso agora? Ele respondeu:

— Este departamento cuida das vidas que lá no seu mundo, faziam todo tipo de mal com os pais, desde uma simples má resposta até o assassinato, passando pela falta de cuidado, respeito, carinho e amor.

Ao lado deste departamento existe um idêntico a este, só que para os pais que fazem o mesmo com os filhos. Essas víceras são enviadas também para o demônio chefe cozinheiro que as junta com aquelas cinzas que eu te mostrei antes, lá dos fornos, para preparar o meu banquete especial. Eu perguntei mais uma vez:

— Senhor Demo, como é que vocês fazem de tudo para incentivar a maldade e a desavença entre as pessoas do meu mundo, até conseguir trazê-las para cá, e depois que estão de posse delas aqui as fazem sofrer tanto, como eu pude ver, até chegar o dia de serem desossadas e queimadas? Ele respondeu:

— O nosso reino existe a milhões de anos e todo esse tempo sobrevivemos com a maldade, damos todo o apoio para que o senso da discórdia aumente no seu mundo, pois só assim conseguiremos arrebanhar vidas para cá, e chegando aqui nós as fazemos sofrer o quanto pudermos e é justamente esse sofrimento que nos alimenta, muito mais do que a carne e os ossos retirados delas.

Houve um tempo em que no seu mundo, a maldade e a discórdia, por obra exclusiva nossa, se espalhou tanto, que quase ele foi totalmente dizimado pelo grande Senhor Criador e Todo Poderoso.

Para nós isso foi péssimo, estávamos enfraquecendo e o nosso Reino entrando em decadência pela falta de uma quantidade maior de vidas para que pudéssemos arrebanhar.

Foi aí que solicitei uma assembléia geral para elaboração de um plano estratégico com ações imediatas, com a finalidade de reverter o quadro negativo.

Desse planejamento estratégico, foi implementada imediatamente uma ação: sortear anualmente, conforme conta nosso calendário, uma pessoa do seu mundo, que estava sempre na contramão do Senhor todo Poderoso, assim como você. Desta forma, facilitando nossa entrada.

Esta pessoa teria a oportunidade de conhecer o nosso Reino e depois retornar para o seu mundo com outra maneira de ver tudo e todos, colocando acima de tudo o amor, reconhecendo o seu Deus como o Senhor Todo Poderoso.

O resultado disso é que o seu mundo está a cada dia aumentando a população o que facilita nosso trabalho de arrebanhar vidas, pois o Todo Poderoso Deus não dizimará esse mundo enquanto tiver bons corações cheios de amor e crença nele.

Por enquanto, não vamos mudar nada, mas na última assembléia que tivemos, chegamos a uma conclusão: Se todas as vidas que já estiveram por aqui e voltaram para o seu mundo fossem mais comprometidas, não preservando apenas suas vidas e as de seus entes queridos, mas trabalhando para o engrandecimento do Reino de seu Deus, nós estaríamos perdidos.

Como a maioria não faz nada disso, estamos tranquilos. É assim que vamos perpetuar, contando com a individualidade do rebanho do seu Deus, que mesmo tendo tido a oportunidade de conhecer este inferno, não faz nada para conscientizar seus irmãos de que a vida aqui é puro sofrimento, mas a porta de entrada é a mais convidativa e bonita. Encerrando ele disse:

— Vamos embora, vou te levar para sua casa. Eu perguntei:

— Há quantos dias estou aqui? Ele respondeu:

— Segundo o calendário do seu mundo, há exatamente sete dias.

Andamos por algum tempo e durante o percurso ele continuou a contar suas historias recheadas de maldades que aconteciam no meu mundo, amparada por ele e também as que aconteciam com as vidas no seu Reino, que eu testemunhei durante a minha estadia.

Chegamos novamente àquela imensidão de campo e quando olhei para traz não vi mais nada a não ser a mesma imensidão que estava à minha frente e também dos lados. Não ousei perguntar nada, apenas o ouvi dizer:

— Feche os olhos e siga em frente, não se preocupe, você acertará o caminho que vai te levar ao encontro da sua verdadeira vida.

Aos poucos ia chegando aos meus ouvidos uma melodia que não me era estranha, e este som foi aumentando até eu perceber que era o canto dos pássaros vindo da mata próxima ao meu rancho e o barulho da água da cachoeira que todas as noites embalava o meu sono.

Senti um calor em todo o meu corpo, era o sol que entrava pela janela e banhava-me com sua luz, mostrando que a vida estava a minha frente. Quando abri os olhos…meus filhos e minha esposa estavam sentados à beira da minha cama soluçando de tanto chorar, só que agora era um choro de alegria e agradecimento à vida.

Levantei e sentei-me entre eles, abraçando-os fortemente, ficando assim por um bom tempo nessa comemoração, como se eu tivesse acabado de nascer.

— Essa é a minha história meu rapaz. Suspirou fundo Belarmino.

Escutando isso, o rapaz se levantou da cadeira, agradeceu o seu Belarmino e foi para sua casa. Naquela noite ele quase não dormiu pensando na história recheada de absurdos, mas de conselhos também.

Quando levantou logo de manhã fez um propósito para si mesmo e para Deus: daquele dia em diante mudaria a sua maneira de viver, sendo mais grato e amoroso com Deus, sua família e a sociedade.

FIM

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