SACUDINDO A POEIRA
A multidão acabava de receber mais uma ajuda e agora de credores. Ele continuou a correr, saltou mais uns dois muros até que encontrou uma casa abandonada que parecia segura, ficando por ali por mais ou menos uma hora.
Foi o tempo suficiente para descansar, ele sabia que não podia ficar de forma alguma naquela cidade, onde todos os moradores já queriam sua pele e o pior é que a maioria nem sabiam porque queriam pegá-lo.
Já se sentindo um pouco mais descansado, saiu de fininho pelo quintal da casa tentando alcançar a rua sem que ninguém percebesse, mas o azar estava com ele, quando passava perto de um cômodo que ficava no final do quintal dessa casa, saltaram dois cachorros pitbull’s em cima dele como se ele fosse inimigo número um da cachorrada também.
Conseguiu um pedaço de pau e foi se defendendo dos cachorros, mas todo aquele barulho indicou para a cidade onde ele estava escondido e a multidão entrou novamente em ação.
Saiu correndo pela rua com os cachorros em seu calcanhar e deu de cara com a multidão que gritou: — Vamos pegar, agora não escapa, os cachorros vão nos ajudar…pega…pega o tarado, pega o safado.
Renato pensava:
— Eu tenho que chegar na saída da cidade, lá fica mais fácil eu fugir.
Na carreira viu uma igreja católica que estava lotada e resolveu pedir socorro: — Com certeza o Padre vai me ajudar, minha família é toda católica e eu também, mesmo que nem sei quando foi que fui à missa, mas sou católico. Pensou Renato.
O que ele não sabia é que o movimento na Igreja se tratava de um casamento e no momento que o padre perguntava aos presentes: — Quem tiver alguma coisa contra essa união que fale agora ou se cale para sempre. Ele entrou na igreja pedindo socorro, os cachorros estavam no seu calcanhar e logo atrás a multidão eufórica que se misturou com os convidados do casamento, querendo a qualquer custo achar o procurado número um da cidade.
Quando ele passou correndo em frente ao altar, em direção à sacristia, se embaraçou com o padre e o sacristão que caíram no chão e neste momento um dos cachorros abocanhou a cauda do vestido da noiva e saiu correndo atrás do fugitivo, derrubando-a. Antes de cair ela segurou no noivo, caindo os dois em cima do padre e do sacristão. Quando se restabeleceram, gritaram:
—Vamos pegar esse maluco que acabou com o casamento.
Renato já havia fugido, saltando uma janela mais próxima, mas não adiantou estavam todos no seu encalço. Agora ele era perseguido pelos dois cachorros, por Gersão e mais de mil amigos, pelo pastor e fiéis protestantes, jogadores e amigos do dono do boteco e por fim pelos noivos, convidados, sacristão e até o padre.
Ele já estava quase alcançando a saída da cidade quando falou em voz alta: — Será que eu joguei pedra na cruz? Não me lembro e nem tenho idade para tanto.
— Meu Deus me tire dessa, se isso acontecer, eu prometo para o Senhor que de hoje em diante eu vou mudar de vida, todos os domingos eu irei à missa, vou escutar os conselhos que minha mãe me dar e vou ser um homem realmente mudado, mas me ajude, se essa multidão me alcançar eu estou morto. Continuou em oração o Renato.
Nesse momento parou um carro perto dele, ele reconheceu e disse: — É o carro do meu irmão, estou salvo.
— Entre logo rapaz. Gritou o irmão de dentro do carro. Mas antes de entrar no carro Renato ainda parou um pouco e gritou para a multidão que estava a poucos metros dele:
— Eu ainda volto seus otários!
Sentindo que a coisa estava feia, seu irmão começou a arrancar o carro e gritou de novo:
— Entre logo se não eu te deixo aí para este povo te matar.
Quando ele entrou e bateu a porta, algumas pessoas ainda conseguiram alcançar o carro com pauladas e os mais distantes atiravam pedras, enquanto isso o carro ia ganhando velocidade sendo seguido pelos cachorros que agora eram mais de vinte, até sumir pela estrada.
Durante a viagem o irmão do Renato estava muito nervoso com ele e disse que só veio buscá-lo por insistência da mãe. Renato ainda continuava xingando e dizendo que ainda voltaria para se vingar do povo daquela cidade o que deixava seu irmão mais nervoso ainda.
Desse bate boca sem parar resultou que o irmão do Renato perdeu a entrada do trevo que dava acesso à cidade deles, e acabou tomando outra direção, aumentando a viagem em mais cento e vinte quilômetros.
Esta noite realmente prometia, pois, depois de ter percorrido tantos quilômetros à toa, já na direção certa da cidade, o carro caiu num buraco na pista e acabou com uma roda toda estourada.
Resolvidos todos os problemas, a viagem seguiu em paz e às sete horas da manhã do dia seguinte eles, enfim, entraram na cidade. Renato pediu para ficar em um ponto próximo à estação rodoviária, seu irmão parou o carro e nem perguntou porque e nem para onde ia, tamanha era a raiva que ele estava dele.
*continua na próxima página…