SACUDINDO A POEIRA
Renato era casado com Aninha há doze anos, tinha duas filhas uma com onze e outra com dez anos, tinha uma profissão que aprendeu com o pai, que se quisesse trabalharia todos os dias. Mas tinha um defeito, não se preocupava com nada, nem mesmo com a sua própria casa, pois contava sempre com a ajuda de alguém, que não deixava faltar nada para sua mulher e suas duas filhas.
Portanto, como se diz popularmente, não sabia nem mesmo o preço de um pão. Por um bom tempo não se ouviu falar em confusão que o Renato teria se envolvido, talvez pelos conselhos que sua mãe lhe dava, tanto que estavam todos elogiando seu comportamento.
Mas eis que num belo sábado a noite, Aninha aparece na casa de Dona Maria chorando, deixando todos os presentes apreensivos, quando enfim conseguiu falar, disse:
— Renato está preso.
Todos que estavam presentes ficaram espantados e Dona Maria quis logo saber como foi que isso aconteceu. Aninha prosseguiu
— Eu só sei que ele estava na boate, aquela da entrada da rua e os policiais o prenderam. Um irmão do Renato disse:
— Nesse mato tem coelho, alguma coisa ele andou aprontando, mas mesmo assim vamos lá ver o que se pode fazer. Saíram todos em direção à cadeia publica, que era para lá que eles levavam os baderneiros da noite.
Chegando lá encontraram apenas o carcereiro, não havia nenhuma autoridade policial na cadeia, mas ficaram mais calmos quando ficaram sabendo, através carcereiro, que o Renato não estava na cela e sim na sala aguardando outras providências.
Para encontrar com o delegado esta comitiva ainda andou por umas duas horas, quando o encontraram, foi preciso muita conversa para que mandasse liberar o preso.
Na hora da liberação todos queriam saber o que causou aquela prisão e o carcereiro que já estava por dentro de tudo não hesitou em contar:
— Eu sei que ele estava na boate tomando uma cerveja numa mesa no canto do salão, quando de repente os policiais chegaram para dar uma “batida” de rotina. Eles pediram que todos ficassem em posição de revista, mas o Renato nem se preocupou em atender a ordem. Os policiais então, pediram para que o proprietário do estabelecimento desligasse o som, o que foi prontamente atendido, mas Renato não gostou daquilo e foi aí que a coisa ficou feia para o seu lado.
— Quando o som foi desligado, ele que não tinha dado a mínima importância para os policiais levantou da mesa e gritou:
— Porque parou, parou porque, ligue essa geringonça de novo.
— Nesse instante não deu nem tempo para ele sentar-se na cadeira de novo, porque os quatro policiais que estavam fazendo a revista largaram tudo e avançaram pra cima dele e em poucos segundos já o tinha imobilizado e colocado dentro da viatura, para posteriormente trazer aqui para a cadeia.
Diante da narrativa do carcereiro, todos entenderam que mais uma vez Renato estava errado. Saíram todos em direção à casa de Dona Maria, o Renato também, porém dava para perceber que ele já tinha bebido o suficiente para não ser considerado gole social, talvez por este motivo estava visivelmente nervoso e xingando muito, cada vez que seus irmãos e sua mulher o recriminavam.
Quando estavam quase chegando perto da casa de sua mãe, Renato largou a companhia de seus irmãos e de sua mulher, dizendo que precisava achar um bar aberto para comprar cigarros e que em breve voltaria, não adiantando os pedidos que todos fizeram para que ele não saísse mais naquela noite.
Quando achou o tal bar aberto para comprar o cigarro, não se conteve e pediu também uma cerveja, sorveu esta e mais outras. E como nesses lugares é impossível você beber sem travar um papo com alguém, ele já estava a altas conversas com uma outra pessoa que ele conhecia apenas por ver passar.
Este bate papo evoluiu e desencadeou para uma discussão, que conseqüentemente acabou em briga no meio da rua. Os dois rolaram pela rua e não tinha ninguém que apartasse aquela briga, devido ao porte físico dos dois, parece que o Renato tinha esquecido que a menos de duas horas ele estava preso e só foi solto devido a intervenção dos seus irmãos.
Os dois continuaram rolando e se esqueceram que estavam perto de uma escada, com mais de cem degraus, que dava acesso à parte baixa da cidade e não deu outra, quando menos a plateia esperava, os dois caíram na escada e foram rolando até chegar na rua de baixo, que por sinal era a rua que a mãe do Renato morava.
As pessoas que assistiam aquela briga desceram os degraus da escada o mais rápido possível para socorrer os dois brigões, que provavelmente estariam bastante machucados ou mortos.
Constataram que realmente eles não estavam bem, pois além da briga as rolagens pela escada os deixaram bastante machucados, providenciaram urgentemente um carro com carroceria, enquanto os curiosos chegavam para ver o que estava acontecendo, e levaram os dois para o hospital. A esta altura os parentes do Renato já sabiam do ocorrido e foram para o hospital para ver como ele estava.
Lá ficaram sabendo que ele teria que ficar sob cuidados médicos por uns três dias, não pelos hematomas, mas para outros procedimentos médicos que indicaria se havia alguma parte óssea quebrada. Eles saíram de lá bastante nervosos, nesta noite já era a segunda vez que este rapaz se envolvia em problema.
— Será possível que ele não tem jeito? Não adianta a gente pedir, nossa mãe dar conselho, nada resolve, parece que ele até esqueceu que tem mulher e duas filhas? Disse um dos irmãos. A mulher do Renato, que estava com eles falou:
— Eu já perdi as esperanças que algum dia ele venha a melhorar.
*continua na próxima página…