PEDRA PRECIOSA

Por edmarpereira
Meteoro na rua

Um dia apareceu na nossa cidade um grupo de ciganos que se instalaram na periferia. Durante o dia as mulheres ciganas andavam por toda a cidade oferecendo o serviço de adivinhação em troca de comida e alguns trocados. Como morávamos numa rua lateral ao centro da cidade, apareceu lá em casa uma cigana querendo a todo custo fazer uma olhada na mão da minha mãe. Ela, para se ver livre da cigana, deixou que ela olhasse a sua mão. A cigana olhou a mão da minha mãe e disse:

— Sua mão me mostra muitas alegrias no seu futuro, aqui está dizendo que você pode ficar rica, só depende de sua coragem.

Claro que essas coisas que ela falou, qualquer um poderia dizer, pois nada havia de concreto. Mas ela insistiu:

— Eu sinto algo aqui que ainda não senti em outras casas que estive, sinto neste ambiente um clima de alegria, de sucesso e posso dizer com muita certeza que daqui sairá um tesouro incalculável.

A cigana recebeu o seu pagamento em troca das palavras que disse e saiu deixando minha mãe muito pensativa:

— Será que ela quis dizer que realmente existe uma pedra preciosa aqui no nosso terreno e se escavarmos no local certo acharemos e poderemos viver ricos para o resto da vida? Eu não acredito em cigana, só deixei-a ver minha mão para me ver livre dela, é melhor eu não contar isso para ninguém, nem para meu marido.

Certo dia, fomos surpreendidos com uns gritos dos meus dois irmãos pequenos, que brincavam de construir estradas, na grande pedra do fundo do quintal. Quando saímos para o quintal eles já estavam descendo em direção a nossa avó, que foi atender o chamado dos meninos, mas eles ainda gritavam:

— Vovó veja o que achamos, olha só que pedra bonita!

Minha mãe e eu nos aproximamos também e vimos um dos meus irmãos segurando uma pedra de tamanho, formato e cor não vista por nós em nenhuma outra ocasião. Acalmamos os meninos e minha mãe disse-os que iria guardar aquela pedra, pois quem sabe poderia ter algum valor, mas eles deveriam ficar calados sobre o acontecido e não dizer nem para o melhor amigo, que tinham encontrado aquela pedra, pois se isso acontecesse correríamos perigo. Os meninos voltaram para a brincadeira de construtores de estrada e por terem achado aquela pedra, dava para perceber que eles se empenhavam mais nas escavações das mini estradas, talvez na esperança de acharem outro tesouro. Minha avó chamou minha mãe e disse:

— É melhor você mostrar esta pedra para alguém que conheça do assunto, para a gente ficar sabendo logo do que se trata. Porque, de repente, essa pode ser a tal pedra preciosa.

Ela respondeu:

— Aqui na nossa cidade eu nunca ouvi falar que tem alguém entendido desse assunto, mas tem uma cidade daqui a uns cem quilômetros que eles labutam muito com pedras preciosas, é o que sempre ouvi falar. Posso levar um dos meninos mais velhos comigo – e olhou para mim – pois nunca fui a essa cidade e com certeza vou precisar de um companheiro. Tem uma coisa que preciso falar com a senhora, há pouco tempo apareceu aqui em casa uma cigana e para eu me ver livre dela, deixei que olhasse minha mão, ela me disse que daqui do nosso pertence sairia um grande tesouro. Será que ela previu que acharíamos pedras preciosas aqui? De qualquer forma já temos alguma coisa nas mãos.

Poucos dias depois, minha mãe conversou com meu pai e ele concordou que ela deveria levar essa pedra para uma avaliação. No dia combinado eu e ela viajamos para a cidade onde havia muitos avaliadores de pedras.

Chegando lá, fomos a uma loja do ramo sem levantar muita suspeita. Ela falou com o dono da loja que gostaria de encontrar com alguma pessoa que labutasse com garimpo, pois seu marido estava desempregado e como tinha conhecimento a respeito de garimpo, de repente poderia arranjar algum serviço nessa cidade, inclusive ele estava do outro lado da cidade fazendo a mesma coisa que ela fazia naquele momento e até o meio dia encontrariam para ver se algum tinha tido mais sorte na procura. Parece que o homem engoliu a mentira, pois sem muitas perguntas, escreveu um endereço num pedaço de papel e o nome de um senhor a quem nós deveríamos procurar.

Saímos dali direto para o endereço anotado. Não foi difícil encontrar com a pessoa indicada pelo comerciante de pedras, ele nos atendeu muito bem, inclusive nos convidando a entrar no seu escritório.

Minha mãe expôs toda a situação, mostrando-lhe a pedra e contando em que condições ela foi achada, claro que omitindo toda a história daquela bola de fogo que um dia pousou no nosso quintal e as histórias que ouviu a respeito na época. O senhor depois de avaliar a pedra, gentilmente disse:

— A senhora fez muito bem em me procurar, essa pedra não é preciosa, mas pela experiência que tenho do assunto, posso dizer com toda certeza que ela é uma escória de pedra preciosa. Em todas as lavras que trabalhei, as que foram encontradas uma escória logo no início dos trabalhos, em pouco tempo achamos pedras valiosas e pela qualidade dessa sua escória, no terreno vai dar pedras de alto valor. Quando resolver tirar a fortuna que está debaixo do chão do seu terreno e não tiver alguém que possa orienta-la, eu me coloco a disposição, no início precisa de um pequeno capital, mas enquanto não der início ao trabalho, evite falar dessas coisas com alguém, pois antes de tudo, tem que cuidar de alguns trâmites legais.

Ela agradeceu ao senhor e disse que qualquer coisa que ela resolvesse com o marido voltaria. De volta para casa ela estava toda esperançosa, conversou muito comigo e colocando sua opinião a respeito daquilo tudo, dando para perceber claramente que bem que ela gostaria que realmente no nosso quintal tivesse escondido no subsolo as tais pedras que poderia mudar a vida de qualquer um de um dia para outro.

Já em casa ela explicou tudo para o meu pai, que também achou a viagem proveitosa, devido ao fato de ter recebido uma informação de alguém com experiência no ramo das pedras. Mas analisando minuciosamente o assunto meu pai disse a minha mãe:

— Vamos fazer como o senhor disse-lhe, ficaremos calados por enquanto, para que essa gente não tenha a infeliz ideia de invadir o nosso quintal, pois como ele mesmo disse, nós vamos precisar de um capital para iniciar o trabalho de escavação e não estamos em condições financeiras para isso no momento.

Ela concordou com ele, mas acrescentou que iríamos trabalhar para juntarmos o dinheiro para dar início ao trabalho de escavação e que todos tinham que dar sua parcela de contribuição economizando no que pudesse, incluindo os filhos maiores de quatorze anos, sendo enfática com o meu pai ao dizer que economizasse nas idas ao boteco que com certeza sobraria mais dinheiro no final do mês para fazermos o capital necessário para darmos início à procura do tesouro.

Começamos a fazer economia, conforme tínhamos combinado, mas nem sempre as coisas saem do jeito que a gente planeja, quando algum dinheiro começava a aparecer, fruto das economias feitas, uma das crianças ficava doente e minha mãe se valia dele. E desse jeito o tempo foi passando e cada vez mais víamos nosso sonho se distanciando. De vez em quando, alguém em casa tocava no assunto, mas parece que o passar dos anos até fez meus pais acreditarem que ali no nosso quintal não existia o tal tesouro que alguns acreditavam ter, inclusive aquele senhor garimpeiro que nos orientou.

Dois irmãos meus mais velhos e uma irmã a essas alturas já estavam casados, meu pai já não arranjava serviço como antes, não só pela idade, mas também pela falta de capital das pessoas que sonhavam ter uma casa própria, para ele que era pedreiro e mestre de obra a coisa ficava ruim. Assim era realmente impossível concretizarmos nosso sonho. Não demorou muito e eu também me casei, fui morar em outra cidade por ter conseguido um emprego melhor. De vez em quando eu visitava meus pais e era impossível não lembrar da história da bola de fogo, desde o seu aparecimento até o dia em que viajamos para receber orientação daquele experiente garimpeiro.

Meus pais ainda tinham filhos adolescentes e outros em idade de trabalhar. Como a cidade parece que cada dia piorava no sentido de oferecer oportunidade de emprego, eles resolveram mudar de cidade a procura de melhoria para meus irmãos. Venderam a casa e foram morar na capital mineira, Belo Horizonte. Quando fizeram isso, a vontade de ver os filhos arrumar alguma coisa boa na vida foi tanta, que até esqueceram do tão sonhado tesouro que poderia estar enterrado no quintal, mas tantos anos já tinha se passado, que a maioria dos moradores da rua daquela época, não moravam mais lá e os poucos que restaram, estavam tão velhos que nem se lembravam de mais nada a respeito daquela história, sem falar que alguns já tinham falecido.

Dessa forma, meus pais, dentre os mais novos, foram os últimos a se mudarem dali em busca de melhores condições para seus filhos. Mas por garantia ou com a intenção de algum dia voltar e comprar de novo aquela casa, eles não falaram nada para os novos compradores, a respeito da história que um dia causou tanto rebuliço naquela rua. Como meus pais não moravam mais naquela cidade, eu não tinha razões também para ir lá. Os amigos da época, em sua maioria, também tinham se mudado.

 
*continua na próxima página…

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