PEDIDO DE CASAMENTO
— Tenho sim. É uma terrinha, mas dá para o sustento. O amigo completou:
— Terrinha…terrinha nada, é um fazendão, é terra a perder de vista.
O futuro sogro demonstrando satisfação perguntou:
— O senhor tem algumas criações nessa grande terra?
Joaquim respondeu:
— Sim, algumas vacas leiteiras, uns bois de criação, uns cavalos p’ra lida e uns carneiros. O amigo completou:
— Algumas, está brincando, dois dias é pouco para contar tantas vacas, bois, cavalos e carneiros que tem lá na propriedade do meu amigo.
O velho continuou:
— Está bom. O senhor tem um veículo para ir à cidade?
Joaquim respondeu:
— Na realidade eu tenho mesmo um carrinho que dá pra ir na cidade.
O amigou completou:
— Carrinho…carrinho nada, aquilo é um carrão e eu estou falando no que ele vai à cidade buscar ração, porque ainda tem um carrão de passeio, dois caminhões para o transporte do gado e três tratores.
O velho estava satisfeito e fez outra pergunta:
— Mas tendo tantas coisas, o senhor dever ter algum dinheiro guardado.
Ele respondeu:
— Na verdade, tenho sim, um dinheirinho para as necessidades de última hora.
O amigo completou:
— Dinheirinho, é uma dinheirama. Ele tem dinheiro que não acaba mais, o cofre nem fecha direito, fora o que tem lá no banco da cidade.
Nisso o futuro noivo abaixou a mão do lado direito e deu uma coçadinha por cima da calça na altura da batata da perna, o que ele já tinha feito outras vezes disfarçadamente.
O velho então perguntou:
— Eu já vi o senhor coçar a sua perna algumas vezes, tem alguma coisa nessa sua perna que te incomoda?
Ele respondeu:
— Não Senhor Orozino…é apenas uma feridinha provocada por um grampo de arame farpado.
O amigo completou:
— Feridinha, feridinha nada, isso é um gabarro de todo tamanho. Pra falar a verdade é uma perebona que já comeu a batata da perna quase toda.
O velho que estava sentado na cabeceira da mesa, ouvindo isso, deu um salto da cadeira, tirou o facão e deu uma lapada em cima da mesa e gritou:
— Suma daqui seu gabarrento, vê se eu vou entregar minha filha para um doente e perebento como você e partiu com o facão para cima deles.
Mas numa velocidade incrível, o pretenso noivo e seu amigo deram um salto pra fora da casa para montarem em seus burros e quando estavam montados perceberam que a toalha da mesa veio atrelada a espora de um deles e quando estavam completando a montaria, os burros se espantaram com a toalha e saíram numa correria dando pinote e levando uma cerca de arame no peito.
Diante dessa confusão, ainda deu tempo de o Senhor Orozino pegar a espingarda e dá um tiro em direção a eles, no que acabou por espantar os cachorros que também saíram numa correria desatada latindo e perseguindo os amigos que mal conseguiam ficar quietos em cima da cela pelos pinotes dos burros.
O certo é que: depois dessa fatídica tentativa de arrumar uma noiva, ninguém mais por aquelas cercanias ouviu falar do Joaquim, pretenso noivo e seu amigo.
FIM