PEDIDO DE CASAMENTO

Por edmarpereira

— Tenho sim. É uma terrinha, mas dá para o sustento. O amigo completou:

— Terrinha…terrinha nada, é um fazendão, é terra a perder de vista.

O futuro sogro demonstrando satisfação perguntou:

— O senhor tem algumas criações nessa grande terra?

Joaquim respondeu:

— Sim, algumas vacas leiteiras, uns bois de criação, uns cavalos p’ra lida e uns carneiros. O amigo completou:

— Algumas, está brincando, dois dias é pouco para contar tantas vacas, bois, cavalos e carneiros que tem lá na propriedade do meu amigo.

O velho continuou:

— Está bom. O senhor tem um veículo para ir à cidade?

Joaquim respondeu:

— Na realidade eu tenho mesmo um carrinho que dá pra ir na cidade.

O amigou completou:

— Carrinho…carrinho nada, aquilo é um carrão e eu estou falando no que ele vai à cidade buscar ração, porque ainda tem um carrão de passeio, dois caminhões para o transporte do gado e três tratores.

O velho estava satisfeito e fez outra pergunta:

— Mas tendo tantas coisas, o senhor dever ter algum dinheiro guardado.

Ele respondeu:

— Na verdade, tenho sim, um dinheirinho para as necessidades de última hora.

O amigo completou:

— Dinheirinho, é uma dinheirama. Ele tem dinheiro que não acaba mais, o cofre nem fecha direito, fora o que tem lá no banco da cidade.

Nisso o futuro noivo abaixou a mão do lado direito e deu uma coçadinha por cima da calça na altura da batata da perna, o que ele já tinha feito outras vezes disfarçadamente.

O velho então perguntou:

— Eu já vi o senhor coçar a sua perna algumas vezes, tem alguma coisa nessa sua perna que te incomoda?

Ele respondeu:

— Não Senhor Orozino…é apenas uma feridinha provocada por um grampo de arame farpado.

O amigo completou:

— Feridinha, feridinha nada, isso é um gabarro de todo tamanho. Pra falar a verdade é uma perebona que já comeu a batata da perna quase toda.

O velho que estava sentado na cabeceira da mesa, ouvindo isso, deu um salto da cadeira, tirou o facão e deu uma lapada em cima da mesa e gritou:

— Suma daqui seu gabarrento, vê se eu vou entregar minha filha para um doente e perebento como você e partiu com o facão para cima deles.

Mas numa velocidade incrível, o pretenso noivo e seu amigo deram um salto pra fora da casa para montarem em seus burros e quando estavam montados perceberam que a toalha da mesa veio atrelada a espora de um deles e quando estavam completando a montaria, os burros se espantaram com a toalha e saíram numa correria dando pinote e levando uma cerca de arame no peito.

Diante dessa confusão, ainda deu tempo de o Senhor Orozino pegar a espingarda e dá um tiro em direção a eles, no que acabou por espantar os cachorros que também saíram numa correria desatada latindo e perseguindo os amigos que mal conseguiam ficar quietos em cima da cela pelos pinotes dos burros.

O certo é que: depois dessa fatídica tentativa de arrumar uma noiva, ninguém mais por aquelas cercanias ouviu falar do Joaquim, pretenso noivo e seu amigo.

FIM

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