O ESPELHO
Como sempre, logo cedo Juvêncio tomou o café e encaminhou-se para o quartinho ficando lá por alguns minutos e depois partiu para a labuta. Sua mulher que já estava à espreita, foi direto para o quartinho onde Juvêncio acabara de sair, desatou uma tira de couro que trancava a porta, empurrou-a e entrou.
Num canto estava o baú onde ela sabia que estava a solução do enigma. Como eles não conheciam espelho, pente ou meios de melhorar ou atestar a beleza, a aparência do povo dessa época era pouco convidativa. Dando sequência à sua investigação, os minutos que antecederam a abertura do baú foi de muita aflição para a mulher de Juvêncio.
Enfim, abriu o baú e o que viu de diferente lá foi apenas aquele objeto de 15 X 10 cm. Tomou-o em suas mãos e posicionou rente aos seus olhos de forma que dava para ver todo o seu rosto incluindo a cabeça também.
Nesse instante, o mundo da mulher desabou, ela deu um grito, sequenciado por choro e olhando para o espelho gritou em voz alta: — Está explicado o porquê Juvêncio não sai desse quartinho desde o dia que veio da rua, é o retrato de uma mulher que ele arrumou lá.
Olhando novamente para o espelho gritou entre lágrimas: — Minha nossa, olha a cara dessa sirigaita, nunca vi tanta feiura assim na minha vida, parece até uma cutia tirado o couro da cara…meu Deus… é por essa porqueira que ele está me trocando? — Vou chamar minha mãe para ver essa pouca vergonha acontecendo na minha casa. Largou o espelho dentro do baú e caminhou para a casa da mãe que ficava bem perto.
Entrou na casa da mãe em prantos e vendo aquilo perguntou: — O que está acontecendo minha filha? Alguma desgraça caiu sobre nós? E ela respondeu:
— Não mãe… foi o Juvêncio.
— Ele te bateu? Perguntou a mãe. Ela respondeu:
— Mãe o Juvêncio está me traindo desde o dia que ele foi lá na rua.
— Como assim? Perguntou de novo a mãe. Ela respondeu:
— Eu vi com meus próprios olhos que a terra um dia há de comer. A prova está lá em casa dentro do baú naquele quartinho dos fundos, ele trouxe um retrato da mulher e todos os dias de manhã e a noite ele beija o retrato e até chora. A senhora precisa ver que mulher mais horrorosa, nunca tinha visto coisa mais feia. A mãe então disse:
— Bem que se diz que “boi manso a patada é certa”, mas vamos lá minha filha que eu quero ver a cara dessa rameira que com toda essa feiura ainda consegue roubar marido de outra.
Chegaram ao quartinho dos fundos, entraram e foram direto abrir o baú. A mulher de Juvêncio pegou o espelho e olhando para ele disse: — Olha aqui mãe a prova da infidelidade e ele nem soube escolher coisa melhor para me trocar e virando-se para sua mãe disse: — Veja a senhora mesma.
A mãe pegou o espelho, posicionou frente ao seu rosto e não se conteve: aos gritos disse: — Minha filha do céu…nunca vi coisa mais feia…é com essa bruxa que ele está te traindo?
Levantando o braço direito que a mão segurava o espelho usou de toda força e tacou o objeto no chão, que se despedaçou todo. Furiosa como nunca tinha ficado, olhava para os cacos de vidro do espelho no chão e gritava:
— Morra sua bruxa…morra sua bruxa…morra sua bruxa…