CANDIDATO BOM DE BRIGA

Por edmarpereira

O apresentador já estava praticamente sem voz, mas gritava:

— Gente, vamos ter calma, nós somos um povo ordeiro, nossa campanha é vitoriosa, isso só pode ser coisa do outro lado, que deixou alguns marginais aqui para promover essa guerra, calma gente, cadê a polícia, acabem com isso.

Mas não tinha jeito, ninguém escutava, a praça tinha virado um verdadeiro campo de guerra. O apresentador ainda continuou:

— Salvem nosso candidato a Prefeito, ele ainda está aí no meio… A voz do apresentador nesse instante emudeceu, pois, uma pedra vinda lá do meio da confusão o pôs a nocaute.

Enquanto isso a guerrilha já tinha tomado conta de todo o Distrito, as poucas ruas foram tomadas por grupos que se identificaram como sendo inimigos de outros grupos e várias frentes de brigas iam se formando.

Quem estava de carro procurava de todo jeito ir embora, mas dificilmente isso acontecia sem antes participar, querendo ou não, daquilo que mais parecia um treinamento para a terceira guerra mundial.

Nesse distrito havia apenas dois policiais, de forma que, não tendo condições de acabar com o tumulto logo no início, comunicaram o fato ao comando que ficava na sede do município e aguardavam o reforço no pequeno posto policial.

Quando a guarnição militar chegou, a guerra já estava no fim, os feridos foram enviados aos hospitais das cidades mais próximas. Os policiais identificaram mais de cem que pareciam líderes da confusão e os prenderam, transportando-os de ônibus até a delegacia da sede do município para apuração dos fatos.

Alguns membros do partido que promoveram o comício e ainda estavam de pé, foram arguidos pelo delegado que queria entender como aquilo começou. Só que no meio do interrogatório alguém lembrou, e disse:

— Vocês estão lembrando quem começou toda essa confusão? Outro respondeu.

— Nem me lembro mais.

Foi quando o candidato a Prefeito, todo machucado e amassado, interviu:

— Agora eu estou lembrando, se o nosso candidato a vereador Zé da Raia não tivesse pulado de cima do palanque no meio daquela briga, nada disso teria acontecido e aquela briguinha com certeza iria acabar logo.

Outro respondeu:

— Isso mesmo, foi o Zé que fomentou a confusão, e onde ele está agora?

— Ninguém sabe, mas ele acabou com a nossa campanha. Disse o candidato a Prefeito, já em prantos.

Passado aquele momento de explicações e confecção de boletins de ocorrência, a cúpula do partido e os assessores foram embora para casa, dizendo que não iriam dormir enquanto não encontrassem com o Zé da Raia, pois aquilo não podia ficar daquele jeito, alguns falavam até em linchamento.

Procuraram o homem por toda a noite e no outro dia também, mas nem sinal dele e de sua família.

Naquela noite da confusão, ele vendo que a coisa não ia ficar boa para seu lado, saiu de mansinho daquele distrito, antes da guarnição da polícia chegar e, chegando à cidade entregou o carro ao seu compadre, sendo essa a última vez que se teve notícia do Zé.

De vez em quando, algum partidário daquela época lembra-se do fato e fala:

— Um dia aquele safado ainda há de aparecer por aqui para podermos escalpelá-lo.

O ódio dessas pessoas em relação a Zé da Raia se justifica, pois, no dia da apuração dos votos daquela eleição, o partido concorrente venceu as eleições dando um show de votos.

FIM

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