CANDIDATO BOM DE BRIGA
Chegou o grande dia. Como Zé não sabia dirigir, chamou o seu irmão que tinha carteira de motorista para levá-lo. Este seu irmão era alguns anos mais novo que ele, muito trabalhador e responsável, mas que também não fugia da raia e às vezes uma pequena discussão, estando ele no meio, virava uma guerra sem tempo para terminar. Segundo as pessoas, estava no sangue da família.
Zé foi com seu irmão até a casa do seu compadre, para pegar o carro, onde as duas passageiras, conforme combinado com seu compadre, já os esperavam e de lá passou em sua casa para pegar também sua esposa, pois ela também iria ajudá-lo na divulgação do seu nome naquele distrito.
Assim que chegaram ao Distrito, Zé e sua mulher começaram o trabalho corpo a corpo com os eleitores, andando de rua em rua, entrando nas casas a convite dos donos, tomando água aqui, café acolá, até que chegasse a hora do início do comício.
Às oito horas da noite em ponto, após o show de uma banda de forró, os candidatos foram chamados para o palanque e logo em seguida também foram convidados os líderes locais para comporem o caminhão da vitória, pois era assim que o apresentador se referia, gritando com toda sua força, no palanque armado em cima do caminhão.
A principal rua do Distrito, que também era a mesma de entrada e saída, passava por uma pequena praça que tinha um chafariz onde as mulheres enchiam as latas de água.
Todo esse percurso até a praça, onde estava o caminhão da vitória, estava lotado de gente, não dava nem para estimar quantas pessoas havia ali.
Os discursos começaram, a platéia aplaudia e gritava sempre que um candidato falava alguma frase de efeito. Parece que tudo era ensaiado. Quando a claque puxava as palmas ou os gritos, todos seguiam como uma orquestra regida por um bom maestro.
Zé da Raia estava instalado estrategicamente ao lado do candidato a Prefeito, que como sempre é o último que fala. Essa estratégia é para que as pessoas não esvaziem o comício antes do final.
No meio dessa festa toda, de repente o apresentador convida para tomar posse do microfone, gritando.
— Com vocês… Zééééééééééééé da raaaaaiiiiaaaaa…
A multidão toda aplaude e grita o nome de Zé, a claque incentiva mais a multidão que canta: — Já ganhou… já ganhou… já ganhou.
Ele então de posse do microfone começa:
— Caríssimos colegas que compõem o caminhão da vitória, candidatos a vereadores, nosso candidato a Prefeito, que já consideramos eleito. Senhoras e Senhores que nos acompanham nessa caminhada rumo à vitória – com certeza esse discurso foi escrito por alguém para que ele memorizasse.
E continuou:
— Foi com muita honra que aceitei esse convite para disputar uma cadeira na câmara municipal. Vocês que bem me conhecem, com certeza me darão um voto de confiança para que eu os represente naquela casa que, com minha chegada lá realmente será a casa do povo. Eu… eu… eu…
De repente, ele para de falar e fica olhando para um pequeno tumulto que se formou lá no meio da multidão e que vinha rolando em direção ao caminhão. Tentou ignorar e recomeçou:
— Eu… eu…
Nisso o tumulto já tinha tomado outras proporções e já estava a uns cinco metros do caminhão, foi quando ele percebeu que no meio de toda aquela confusão estava o seu irmão, o mesmo que veio dirigindo para ele, apanhando igual a cachorro sem dono.
Nesse momento, Zé jogou o microfone de lado e deu um salto digno de um atleta de natação em cima daquela roda de briga, que a essa altura ninguém sabia mais quem batia ou quem apanhava. Ele já caiu mandando porrada para todo lado, tentando salvar seu irmão.
Alguns conhecidos seus e de seu irmão também entraram na confusão transformando o comício num verdadeiro pandemônio. Quem estava na parte mais alta da praça ou em cima do caminhão só via pancada para um lado, porrada para o outro, alguns eram arrastados para fora da briga já sangrando todo o rosto.
As mulheres gritavam e o apresentador já estava rouco de tanto pedir calma e indicar para as pessoas para que lado deveriam correr.
Esse inferno não acabava e Zé da Raia ainda estava lá. Deus sabe como foi quando ele conseguiu encostar um pouco no caminhão para tomar um fôlego. O candidato a Prefeito que ainda estava em cima do caminhão não acreditando no que via, vendo o Zé tão perto abaixou um pouco e pegou na gola da camisa dele e gritou:
— Zééééé, você está acabando com meu comício e comigo também.
Só que no meio daquela algazarra toda e já meio atordoado, Zé pensou que era um inimigo querendo te dar uma gravata, jogou os dois braços para traz agarrando o candidato pelo pescoço e jogando-o no meio da confusão já descendo a porrada.
Os assessores do candidato a Prefeito vendo aquilo, pularam também no meio da confusão para tentar salvá-lo, que a essa hora já apanhava muito. Outros candidatos a vereador que estavam em cima do caminhão tentando fazer alguma coisa para amenizar a situação, também pularam no meio daquela confusão.
Na verdade, o palanque armado no caminhão estava parecendo um trampolim de piscina, a cada momento pulava mais um e os que já estavam no meio só queriam mesmo era se defender dando porradas para todos os lados e consequentemente tomando também.
*continua na próxima página…