CANDIDATO BOM DE BRIGA
Poucos dias depois, deu-se início à campanha eleitoral. As várias facções políticas já movimentavam na rua tentando ludibriar os eleitores cada um a seu modo.
A cidade que antes era tão pacata, silenciosa, parecendo até mesmo com um deserto, de repente ficou parecendo um mercado a céu aberto, com tanta gente pelas ruas. Carros com alto falantes gritando os nomes dos candidatos e suas qualidades que até então eram desconhecidas pelos eleitores.
A campanha de Zé ia de vento em polpa, segundo ele, pois todos que ele pedia um voto confirmavam: — Claro Zé, você merece, apesar de ser um homem pobre, é honrado, cumpridor dos seus deveres, prestativo e isso é o que conta, meu voto e de minha família serão todos seus.
Ele acreditava, tanto que segundo sua contagem já dava para se eleger umas três vezes. Com essa crença ele não largava mais as rodas políticas, discutindo o que não entendia e repetindo o que ouvia de outros mais catedráticos no assunto.
Trabalhava dia e noite nos bairros periféricos, nos morros e às vezes na zona rural quando arrumava uma carona no caminhão que transportava leite. Sua campanha não era nada fácil, pois não tinha carro e nem sequer uma bicicleta, tinha que ser na perna mesmo, ainda mais que ele não podia pagar um carro de som para lembrar aos eleitores as suas mil e uma qualidades, o jeito era ser assim mesmo, mas estava dando certo segundo os números que ele contabilizava.
O período de campanha já estava bem adiantado, os partidos começaram a organizar aqueles grandes comícios que chamam a atenção e mostra poder para o rival
O partido do qual Zé era candidato convocou todos os filiados, simpatizantes e candidatos para informar que no final de semana, mais precisamente no sábado, estava marcado um comício para um distrito vizinho, distante uns trinta quilômetros da sede.
O local foi escolhido devido ser o distrito com o maior número de eleitores e também por ter muitos moradores antigos considerados pessoas de bem, que eram bastante conhecidos e respeitados, enfim, formadores de opinião.
O presidente do partido pediu o empenho de todos nesse comício, e se tudo saísse como planejado, com certeza já poderiam considerar a campanha vitoriosa, a exemplo de outras eleições, em que esse distrito ditou a vitória.
Zé da Raia ficou muito animado com a determinação da cúpula do partido em realizar esse grande comício nesse distrito. Porém, uma coisa o deixou triste, como vou me apresentar lá, chegando numa carroceria de caminhão com mais cinquenta pessoas espremidas, cheio de poeira. Então ele teve uma idéia, procurou seu compadre e contou-lhe a história. Este seu compadre gostava muito dele e além do mais também era simpatizante do partido o qual ele era candidato.
— Compadre Zé, eu arrumo o carro para você ir a este comício, você só precisa arrumar um motorista, e tem mais, deixe duas vagas no carro parque minha mulher e minha filha também querem ir, eu sei que vai ser uma verdadeira festa da nossa vitória. Disse o compadre.
Muito alegre e satisfeito, Zé saiu dali já planejando sua abordagem aos eleitores daquele Distrito e planejando seu discurso de palanque, que, aliás, não tinha feito nenhum ainda, porque a pessoa responsável pela escolha dos candidatos para discursar no comício, sempre dava um jeito de tirar o seu nome, alegando excesso de candidatos para discursar.
Dessa vez estava certo, seu nome estava entre os oradores da noite. Conseguiu essa vaga argumentando que lá moravam alguns amigos e parentes que tinham confirmado voto para ele, portanto tinha que dar uma palavrinha aos seus eleitores.
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