CANDIDATO BOM DE BRIGA
Enquanto isso a guerrilha já tinha tomado conta de todo o Distrito, as poucas ruas foram tomadas por grupos que se identificaram como sendo inimigos de outros grupos e várias frentes de brigas iam se formando.
Quem estava de carro procurava de todo jeito ir embora, mas dificilmente isso acontecia sem antes participar, querendo ou não, daquilo que mais parecia um treinamento para a terceira guerra mundial.
Zé da Raia, assim que ele era conhecido naquela cidade. Moço bom, trabalhador e sempre estava disposto a ajudar alguém que precisasse, a qualquer hora do dia ou da noite. Todos naquela pequena cidade o conheciam, gostavam dele e o respeitavam muito. Mas tinha um problema, era de gênio forte, inclusive gostava de falar que nunca tinha levado desaforo para casa.
Segundo contam, quando ele era mais moço sempre que havia uma briga, lá estava o Zé envolvido, e quando não tinha nada a ver com a confusão, entrava apenas para apaziguar, mas não conseguindo seu intento, entrava para valer assim mesmo, daí ganhou este apelido: Zé da Raia.
Estava chegando a época de eleição municipal, os líderes dos partidos começavam a recrutar os candidatos a vereador, principalmente aqueles que tivessem um potencial maior de arrebanhar mais eleitores e com isso ajudarem o candidato a prefeito.
E nessa procura por candidatos não poupam nada, procuram representantes de igrejas, de associações, de repartições públicas e onde houvesse alguém que lidasse com um número maior de pessoas.
Foi quando, em uma reunião de uma determinada representação política, um dos presentes levantou e disse:
— Caros correligionários, estamos aqui discutindo para decidirmos quem vamos convidar para fechar o nosso quadro de candidatos a vereador. Pois bem, eu tenho a solução.
— Qual? Responderam em coro.
— Eu tenho o nome da pessoa que tanto precisamos.
— E quem é essa pessoa? Perguntou um dos presentes.
— Zé da Raia.
— Zé da Raia? Entoaram em uníssono.
— Sim, ele mesmo. É bastante conhecido na cidade, presta muitos favores e com certeza vai nos arranjar muitos votos. Se ele vai ganhar para vereador ou não isso é outra história.
— Mas dizem que apesar de ser uma boa pessoa, ele tem um gênio forte e por qualquer coisa arma um barraco (Comentou outro). E em tempos de eleição nessa cidade muita coisa acontece, se a pessoa não tiver um pouco de complacência com o que vê e acontece, pode arrumar muita confusão.
— Mas este é o nosso homem (disse o primeiro defensor) e aconselho a procurá-lo.
Depois de muita discussão, entraram em consenso e já partiram em busca do candidato. Encontraram o Zé em casa descansando em uma rede. Cumprimentaram e ele foi logo perguntando:
— O que vocês fazem aqui, por um acaso estão precisando de alguma coisa? O representante do grupo respondeu:
— Estamos sim. Na verdade, não só nós, mas toda a cidade precisa de você.
— Como? Perguntou.
— Estamos aqui por um apelo geral. O povo quer que você seja candidato a vereador.
— O que? Perguntou mais uma vez.
— É isso mesmo, segundo uma pesquisa que encomendamos o seu nome foi o mais indicado para concorrer à câmara municipal. Argumentou outro membro do partido, a fim de convencer o pobre coitado.
— Bem meninos, se é assim, eu aceito. Disse o Zé.
*continua na próxima página…