O ESPELHO

Por edmarpereira

Juvêncio e sua esposa moravam num pequeno pedaço de terra, herdado por ocasião da morte do pai, já que a mãe faleceu primeiro, ambos de doenças não identificadas.

Naquele tempo a medicina não havia chegado aos rincões mais distantes, todos se valiam dos remédios cultivados na roça, que nem sempre resolviam os problemas de determinadas doenças. Os partos eram feitos por parteiras do arraial mais próximo ou da zona rural. Viviam uma vida pacata, pois não tinham filhos ainda, apesar de terem uns oito anos que moravam juntos.

Próximo à casa de Juvêncio, também morava sua sogra, que já havia perdido o marido e por isso tinha tempo de sobra para ajudar sua filha nos afazeres da roça.

Juvêncio era quem cuidava da parte mais pesada, limpava a terra e cuidava das poucas vacas que tirava alguns litros de leite para fazer requeijão para o consumo, sendo que o restante vendia ou trocava com os tropeiros que ali passavam de vez em quando indo para a zona urbana da região.

Normalmente o que ele adquiria com os tropeiros era querosene para abastecer os candeeiros da sua casa e de vez em quando adquiria também uma fazenda de pano para a mulher e sua sogra costurarem para eles.

Produziam tudo que era necessário para o consumo como: hortaliças, frutas, carnes bovinas, suínas, ovinas, peixes e às vezes de caça também. Produziam também raízes, dentre elas mandioca que faziam farinha e milho que além de consumirem alimentava também os galináceos.

Nunca tinha ouvido falar em energia elétrica e o arraial mais próximo ficava a seis léguas de distância, onde a viagem era feita em carreiros e travessia de áreas alagadas e córregos. Por esses motivos às vezes o Juvêncio ficava anos sem visitar este arraial que era o mais próximo da sua propriedade.

Um certo dia, ele chamou a mulher e disse que dois dias depois iria visitar o arraial, pois um viajante tinha falado para ele que um mascate de um lugar chamado São Paulo estaria lá vendendo várias coisas úteis.

E foi o que aconteceu, no dia marcado levantou às três horas da manhã, vestiu a roupa, passou a mão no cabelo, pois não tinham pente e tampouco ninguém ali já tinha ouvido falar de um objeto chamado espelho, no máximo de vez em quando viam um pedaço de jornal nas coisas dos mascates com figuras que chamavam de retrato. Assim, partiu com sua mula boa de viagem rumo ao arraial.

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