A EXORCISTA
A fúria dela foi aumentando até que atacou a árvore como se fosse sua inimiga, travando os dentes nos galhos e arrancando e mastigando-os e não se sentindo saciada, avançou também no tronco da árvore fazendo o mesmo. Dona Nininha, aconselhada por outras amigas, tomou uma decisão sem avisar Hildete.
— Hildete, tome conta de Júlia, para que ela não se machuque muito, que eu vou ali e volto logo. Disse Dona Nininha.
Ela não quis dizer nada à filha porque talvez não tivesse a sua aprovação, mas encaminhou-se para um centro de feitiçaria que ficava do outro lado da cidade, para contratar os serviços de um profissional e assim resolver o problema da sua neta.
Dona Nininha voltou logo e trouxe o tal feiticeiro que com certeza curaria a sua neta. No caminho, ela já tinha explicado tudo que havia acontecido anteriormente e o que se passava agora. Ele que já era experiente nesse ramo trouxe seus ajudantes e toda parafernália que iria precisar.
Chegando no local, ainda encontraram a menina nas mesmas condições, quer dizer, querendo a todo custo acabar com aquela pobre árvore, não escutando os apelos de sua mãe e agindo como se não tivesse mais ninguém naquela rua. O homem chamou Hildete e disse:
— Pelo meu conhecimento, já observei que sua filha está com um demônio. O que vou fazer não é para machucá-la e sim para tirar “o coisa ruim” do seu corpo, mas não se preocupe porque nesse estado ela não sente dor nenhuma, mesmo depois que eu terminar o trabalho e ela voltar em si.
Dizendo isso o pai de santo pegou uma corda e a rodou no ar atirando em direção à menina que ficou imóvel dentro do laço. Feito isso, levou-a para dentro de casa e começou o ritual colocando uma fileira de velas de um lado e do outro do corpo, acendendo-as e em seguida acendeu um incenso que tomou conta rapidamente da casa com seu cheiro e fumaça.
Dando prosseguimento, entoou uma música que só ele sabia, pois não dava para entender que palavras eram aquelas que compunham a música. A menina continuava inquieta tentando rolar no chão, mas as amarras da corda não deixavam, e ela gritava e falava palavras que às vezes não dava para serem decifradas. Esse ritual demorou por muito tempo e nada de melhora, o pai de santo resolveu mudar de tática, pegou uma chibata e dirigiu-se para a menina e falou com voz bem forte:
— Demônio, você não quis sair deste corpo pelos métodos razoáveis que eu usei, mas agora não tem pra você, vou te dar duzentas chibatadas com toda minha força e mais nunca voltará a molestar esse corpo. Levantou a chibata, mas foi contido pela mãe de Júlia, Hildete, que gritou:
— Não senhor, eu quero minha filha viva, pode apanhar sua tralha e sumir da minha casa. Dizendo isso, ela desamarrou a menina, que se sentindo livre avançou contra o pai de santo com o intuito de massacrá-lo, mas este ganhou a porta da rua e saiu em disparada sendo seguido por seus ajudantes.
A menina saiu para a rua, mais nervosa ainda, gritando, rolando pelo chão, levantando até descobrir um muro de arrimo que ficava próximo a árvore que ela tentava destruir a poucos instantes. Batia a cabeça nesse muro com toda força a cada giro que dava naquele trecho da rua, enquanto sua mãe e sua avó, choravam desesperadas sem saber o que fazer, ainda mais que já eram duas horas da manhã, e a quem pedir socorro, pois os que apareciam nas janelas das casas, não tinham nada a oferecer, estavam ali apenas movidos pela curiosidade.
*continua na próxima página…